4.6.06

segue-me à luz / na escuridão não II

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pois não foi. sei bem que não foi só tua a culpa. cada um usou a sua pá e cavou bem fundo este fosso que agora nos separa. um fosso. a última coisa que fizemos em conjunto.
sinto na boca a acre ironia.

fui mudando de pele como uma cobra na estação quente. devia ter deixado um rasto de escamas secas para saberes que a mudança tinha chegado de braço dado com a aridez. mas não. recolhi-as uma por uma. guardei-as, escondi-as, queimei-as para não sentires sequer o seu cheiro. tornei-me mestre do disfarce, da estática mutação. deixei de ser transparente (como fazias questão de me dizer). liquefiz tudo o que sentia para não poderes distinguir as minhas cores e texturas, os meus sons e sabores.
não te dei qualquer hipótese.


só não me podes culpar de querer sentir. o resto posso assinar sem ler.