29.5.06

asa ferida


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podias tê-la levado até à raiz. podias ter-lhe encostado aos lábios as palavras e estendido na tua mão o murmúrio do mar. podias então tê-la abraçado com os ramos e soprado a fina areia branca do seu corpo. nem uma única vez.

preferiste deixá-la esquecida, sentada na sombra.

ficou eternamente à espera da primavera, do azul e do amarelo, das papoilas, dos sorrisos, do dia. aos poucos fui-me doendo, desesperando.


deixas um pássaro agoniar só porque tens medo que ele voe?





20.5.06

deixo este monstro viver em mim




alimento-o. deixo-o bater descompassadamente. nego-o e escondo-o sabendo que é meu.
quando se torna demasiado forte magoo-o. deixo-o moribundo mas ele sobrevive.
mantêm-se quieto. parado como uma criança repreendida. fica à espera e por vezes parece-me que já não existe.


mas afinal somos o mesmo
sim. somos um.

11.5.06

hoje magoaste-te

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sim. foram os teus pés. escorregaram do fio de arame em que pensavas equilibrar a tua vida.
já sabias que aconteceria. mais cedo. mais tarde.
as tuas mãos? pequenas e inseguras sentiram nas palmas o frio do aço. foi demasiado doloroso.
não, não são os cortes nas plantas e nas palmas que doem.....

nunca viste por onde seguias. nunca cheiraste. nunca sentiste. nunca ouviste. nunca nada.


podes abrir os olhos agora. podes ver. acredita-me.

9.5.06

à chuva e ao vento


roedt-sort sirius_1973





lykkens pamfilius_1993




himlens slot_1951




italiensk billede_1950






carl-henning pedersen

demónios

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deixa-os dormir... não os acordes com o teu calor. com a tua voz quente.
não os quero de novo agarrados ao meu pescoço.
deixa-os assim, dormentes no escuro.

não sabes como sufoca o seu peso sobre o meu peito.
pára. não dês nem mais um passo, nem mais um sussurro.

não estão em qualquer parte, nem nos tectos ou paredes.
estão em mim.
são meus.




6.5.06

não o encontro

|b|



onde está o meu livro de instruções?

preciso muito dele.

2.5.06

mournful amicitia

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se o sol sentisse o frio deste coração apagar-se-ia, encolher-se-ia cinzento atrás da lua.

em que minuto aconteceu? em que altura da tua vida decidiste negar-me a tua cumplicidade? em que momento da minha vida me escorregaste por entre os dedos? falas-me em silêncios que não sei definir. um sentimento meio morto meio vivo, que se arrasta pelo minúsculo corredor de mármore como se fosse já o oceano.


tristis. lacrimosus. lamentabilis. luctisonus. miserabilis.