28.3.06

23-17=6

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porque atiras ao vento os mil pedaços em que nos (des)fizemos e esperas que seja eu a apanhá-los? que estilhaços guardas no teu peito? esbateram-se os contornos da pessoa que fomos e queríamos ser. tenho uma dor funda e todas as fibras estraçalhadas pela saturação e pelo cansaço. estou aqui parada vendo o rio, de braços caídos e de olhos presos no tempo que passou, no que fui e no que poderia ter sido. inútil eu sei.





foi assim que o tempo nos fez...



6.3.06

a dor de saber onde dói

com um golpe único e certeiro. não esquecer de deixar margens bem definidas em todas as direcções. que fiquem de aviso para qualquer infeliz que estupidamente se aproxime. prefiro o metal frio a trespassar, de uma vez, a carne podre do que este arrastar necrosante do coração que não recebe sangue mas um líquido escuro e putrefacto. extirpar esta massa negra que sufoca, que não me deixa respirar nem sentir nada que seja bom. sei exactamente em quem me dói.


é o que quero receber no meu aniversário.

pacques


|b|


nasceste numa noite fria e húmida, a treze de abril, há dezasseis anos atrás. foste o primeiro de onze irmãos, o mais fraquinho, o mais raquítico. depressa se viu que ias precisar de ajuda. foi aí que começamos. que saudades das tardes de verão passadas de costas na relva húmida, com os olhos fechados por força do sol e com a mão afagando-te o pêlo e puxando-te pela orelhita frizada. o mundo era apenas ali e tudo se media pelo número de passos, pela cor das ameixas, pelo ruído das cigarras, pelas ondas de calor e pó no ar, pelo tom fulvo do teu pêlo e pela serenidade dos teus olhos. era tão fácil sentir-me feliz.

se fechar os olhos com força consigo ainda agarrar o teu cheiro seco e doce, da palha acabada de cortar em que desafiavas deitar-te. consigo ouvir a tua respiração quente na minha cara.

quis cumprir mas não consegui.