28.7.06

sigo apenas o pó no ar e as abelhas

vou levar o dedo comigo.
preciso dele para roubar maçãs do pomar. preciso dele para apanhar terra com as mãos e afastar os silvados das pernas.
para agarrar as amoras.





a ferida fica.

3.7.06

revelação de fim de tarde

|b|


tirei uma fotografia à alma. queria saber de que cor era e com que contornos se desenhava. tinha esperança de ver luzes e sombras ao vento. o resultado? vidro moído na chapa revelada.


diminuí a íris. aumentei-a.
juntei nitrato de prata. fiz ligas de cobre, estanho e até chumbo.
diluí o revelador.
prostrei-me. agitei-me.
voltei ao começo.

o resultado? vidro moído na chapa revelada. em todas.

peguei numa delas, queria aproximá-la do ouvido: cortei-me.
pingou sangue aquoso no chão.
secou.
a ansiedade tornou-se angústia, que me apertou a garganta e me fez chorar.

esperei...
esperei.
deixei de ouvir os soluços de dor.

cerrei os olhos para ver a fotografia.
finalmente via... sim! são pequenas mas estão vivas. têm cor! têm a ingenuidade e a sensibilidade determinada das flores-de-muro.

terás sido tu que as plantaste, com a tua voz, por entre os cacos estéreis de vidro?
foste.
sinto o teu cheiro.