6.3.06

pacques


|b|


nasceste numa noite fria e húmida, a treze de abril, há dezasseis anos atrás. foste o primeiro de onze irmãos, o mais fraquinho, o mais raquítico. depressa se viu que ias precisar de ajuda. foi aí que começamos. que saudades das tardes de verão passadas de costas na relva húmida, com os olhos fechados por força do sol e com a mão afagando-te o pêlo e puxando-te pela orelhita frizada. o mundo era apenas ali e tudo se media pelo número de passos, pela cor das ameixas, pelo ruído das cigarras, pelas ondas de calor e pó no ar, pelo tom fulvo do teu pêlo e pela serenidade dos teus olhos. era tão fácil sentir-me feliz.

se fechar os olhos com força consigo ainda agarrar o teu cheiro seco e doce, da palha acabada de cortar em que desafiavas deitar-te. consigo ouvir a tua respiração quente na minha cara.

quis cumprir mas não consegui.